O homão e o menininho (uma fábula)
Era uma vez um menininho muito magrinho e
pequenino. Desses que não engordaram porque comeram pouco quando eram menores
ainda. Desses que têm menos idade do que aparentam e são bem menores do que
poderiam ser, considerando a idade que têm.
O menininho saía de casa bem cedo,
carregando uma mochila cheia de livros, cadernos e umas bolas de tênis bem
velhas, encontradas num lixo qualquer. Os livros e cadernos eram para uso na
escola, mas antes da aula ele parava no sinal de trânsito e sacava os instrumentos
de trabalho. Toda vez que o sinal ficava vermelho o menino pulava na frente dos
carros, jogando as bolas para cima e para baixo, de um lado para outro,
levantando com uma mão e aparando com a outra. O menino pensava que estava
oferecendo um espetáculo circense e que por isto merecia uns trocados. Alguns
motoristas achavam bonitinho e engraçado e davam umas moedas para ele. Outros
não davam a menor atenção, nem mesmo um sorriso.
O menininho fazia isto porque era
muito pobrezinho. Pobrezinho mesmo, que nem esse monte de menininhos que anda
bestando aí pelas ruas nas grandes cidades. E era muito feinho. Magrinho,
pobrezinho, feinho e desdentadinho. Tinha apenas uns dois ou três dentinhos,
todos bastantes esburacados e em péssimo estado de conservação. Andava
esculhambadinho que só vendo. Aquelas roupinhas esfarrapadas, com uns remendos
na bundinha e nas costas, uma lástima.
Um dia, o meninninho vinha
distraído por uma calçada, contando as moedas e planejando as futuras
investidas no sinal, quando deu de cara com um homão grandalhão. Um homão
grandalhão e gordão, bem barrigudão, com os dentões todos na boca. Passou a mão
enorme na cabeça sujinha do menininho e perguntou:
– Garoto, quem é teu pai?
O moleque abriu
um sorrisinho bem safado e respondeu:
– O senhor!
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