Garrincha
Um pequeno passarinho muito conhecido naquele lugar, chamado garrincha,
pousou sobre a bola de couro esquecida no campo de batalha. Meio pardo e de
asas e cauda listradas de preto, também conhecido como garriça ou cambaxirra, o
pássaro que tem nome de craque deu alguns pulinhos desajeitados sobre a pelota
e bateu asas.
Nesse instante, como se tivesse sido chutada violentamente por um
jogador invisível, a bola também bateu asas e subiu. Um lançamento perfeito na
direção do céu. Os vinte e dois jogadores titulares, mais os reservas, técnicos,
dirigentes e todos os torcedores ficaram parados no estádio. Os olhos voltados
para o vôo maluco da bola, que voou até sumir.
E como o dia já estava mesmo começando a virar noitinha, a lua apareceu
de repente e engoliu a redonda – como a chamam os locutores esportivos. A bola
virou lua, lua cheia, bem cheia e muito brilhante. O campo ficou tão iluminado
que os atletas sentiram vontade de começar outro jogo, e só não o fizeram
porque o cansaço da peleja disputadíssima não permitiu.
O menino quis saber se a bola seria recuperada e o pai disse que não.
– Está bem lá em cima, limpa, linda e cheia. Iluminando os grandes
estádios, nas grandes cidades, ou os campinhos mais escondidos nos fins de
mundo.
(Do livro "O homão e o menininho", Editora Abacate, 2013)
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