– Já está gravando?
–
Está.
– O que você pretende com essa entrevista
comigo?
– Quem faz as perguntas aqui sou eu. Eu
sou o entrevistador. Você, a entrevistada.
– Combinado. Você está pagando.
– Como é o seu nome?
– Shirley. Alexandra. Simone.
– E
na Carteira de Identidade?
– Maria das Graças Ribeiro da Cunha. Filha
de Maria Auxiliadora Ribeiro e de Salvador Amorim da Cunha. Sou sergipana, de
Itabaiana. Tenho vinte e um anos.
– E na Carteira de Identidade?
– Trinta e dois.
– Filhos?
– Lindos. Um casal. Anderson e Michele.
Estão lá, com minha mãe.
– Bonitos nomes. De onde você os tirou?
– De uma revista de nomes. Tinha nomes de
todo tipo: de americano, de alemão, de francês, todos Jean, Pierre ou
Jean-Pierre. Até nome de chinês, Ching, Ling, Ling-Ching. Para que você quer
essas informações?
– Vou escrever um conto.
– Como vai se chamar.
– A puta.
– Interessante.
– O que aconteceu que empurrou você para
essa vida?
– Que vida?
– De puta, ora essa.
– Não aconteceu nada. Um dia resolvi
abraçar a profissão de prostituta. Todo mundo precisa ter uma profissão, não é
verdade?
– Você não foi violentada e abandonada,
quando novinha?
– Que nada. Minha primeira vez foi tarde. Eu
já era bem crescidinha. Ninguém me violentou nem me abandonou. Dei por prazer e
faço isto até hoje.
– Você não foi expulsa de casa pelo seu
pai? Não teve que cair nessa vida por absoluta falta de opção e aí comeu o pão
que o diabo amassou?
– Nada disso. Acho que não sou a
personagem ideal para o seu conto. Opções não faltaram e optei pelo prazer.
– Já apanhou?
– Já. Mas não gostei.
– Qual o seu tipo de homem?
– Todos. Sobretudo aqueles que pagam bem,
são carinhosos, limpos e atenciosos. Que são clientes, mas também sabem ser
amantes. Tenho uma queda especial por escritores. Afinal, quase me tornei uma
escritora também. Há algo em comum entre as nossas profissões, sabia?
– Ah, é? O quê?
– Vocês também se vendem.
– E
quando você desistiu de ser escritora?
– Não desisti. Apenas optei por viver. Mas
vou escrever um conto.
– Ótimo. E como vai se chamar?
– O contista.
– Que interessante.
– Continue com suas perguntas. Vou
precisar muito delas na hora de escrever a minha história.
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