quarta-feira, 26 de outubro de 2016


Caixinha de surpresa

           – E aí, Dico?!

– Fala, Toco!

– Vai ao jogo?

– Não perco por nada.

– Então, nos encontramos lá. No lugar de sempre.

– Melhor chegar cedo, para pegar lugar onde não bata sol.

– Sol?! O jogo é noturno.

– Sabe como é, né?... Futebol é sempre uma caixinha de surpresa.
 
***
 
– Jogo duro, hoje.
– Duríssimo.
– O Elias joga?
– Não. Está machucado.
– E o Eduardo?
– Machucado também.
– E o Leo?
– Suspenso.
– Que horror.
– O bicho tá pegando.
– Justo eles, os melhores do time...
– Por falar em melhores, vamos jogar com o goleiro reserva. O Felipe também está suspenso.
– Meu Deus!
– Acho que hoje nem Deus entra em campo. E, se entrar, joga pelo adversário.
 
***
 
– Estou gostando de ver.
– Eu também.
 
– O time está surpreendente.
– Está demais.
– Arrasador. Magnífico.
– Os reservas estão se superando.
– O adversário não consegue sequer pegar na bola.
– Esse é o meu time!
– Esse é o meu também!
– Arrasador. Magnífico.
– Três a zero, hein?! Quem diria?...
– Quer saber? Eu não tinha dúvidas.
– Nem eu.
 
***
 
– Tim-tim!
– Tim-tim!
– Nada como relaxar depois do jogo.
– Sobretudo quando o nosso time ganha.
– Sobretudo de goleada.
– Foi sensacional.
– Arrasador. Magnífico.
– Fala sério, agora só entre nós: você esperava que fôssemos ganhar esse jogo?
– Não. E você?
– Claro que não.
– Mas futebol é uma caixinha de surpresa.
– Ainda bem.
(Do livro "O gandula que comeu a bola". Editora Dimensão, 2014)
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário